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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O belo, lúdico e a mistica na Catequese - PARTE l

Trechos do material produzido pelo Regional Leste II da CNBB: O belo, o lúdico e o místico na Catequese. Belo Horizonte – MG. *por conta da extensão do arquivo estaremos publicando em três partes. Acompanhe a sequência!

O LÚDICO QUE LIBERTA

Este texto, de Edwar Neves M. B. Guimarães, foi apresentado no Encontro Regional de Coordenadores de Catequese promovido pela Dimensão Bíblico Catequética do Secretariado Regional Leste II, em Belo Horizonte, no dia 23 de julho de 2010. 

1. O “lúdico” aos olhos da fé cristã Esta é uma dimensão profunda da vida humana. Ela está presente em todas as culturas. Ela tem a função de preparar o coração para saborear a vida. Há uma diversidade enorme de manifestações típicas de nossa natureza lúdica: criação de jogos, brincadeiras, diversões, festas, ritos, expressões de humor...

Criação de instrumentos musicais, canções, danças, poemas, teatro, cinema, jardins, parques... O lúdico é a expressão externa do prazer de viver, da harmonia e alegria presente na interioridade humana. O ser humano além de homo sapiens, homo faber, homo socialis é também homo ludens.

O sinal mais imediato, comprovador de nossa dimensão lúdica, estampa-se em nosso próprio rosto através das inúmeras expressões do sorriso humano. Somos insaciavelmente famintos e sedentos de sorriso. Pode-se perceber, na verdade, uma dupla necessidade: a de sorrir e, principalmente, a de colher sorrisos. E aqui não se trata de qualquer sorriso, mas da autêntica expressão diante da realização humana na intimidade do amor, da acolhida sincera, do prazer da convivência nas muitas formas de amor experimentado e compartilhado.

Entre as experiências mais profundas da vida humana, fundamental para nosso equilíbrio afetivo e segurança pelos caminhos da vida, destaca-se o sorriso. O sorriso de uma mãe tem o poder de acalentar e trazer tranqüilidade e paz para a criança. O sorriso de um amigo ou da pessoa amada tem o dom de restaurar as forças do cansaço, revigorar o ânimo e promover a saúde do coração. Quem não se lembra das emoções provocadas pelas narrativas de um avô/avó, de um pai/mãe ou um professor/professora? 

A grandeza e as maravilhas da criação revelam a face amoroso do Deus que cria por amor, com amor e para o amor. A pessoa de fé, quando contempla admirada a criação, colhe a transcendência do “sorriso” da gratuidade terna do Deus estradeiro conosco e experimenta, dentro de si, o chamado divino para ser co-criador: cuidar e defender a vida, alegrar-se com e saborear as possibilidades oferecidas e, sobretudo, participar da comunhão amorosa com Deus. 

2. Nem toda experiência lúdica liberta Toda realidade humana é ambivalente. Pode ajudar ou atrapalhar, ser boa ou ruim, construir ou destruir... Nesse sentido, toda experiência humana exige contínua avaliação crítica. Pode-se, de fato, observar que muitas entre as experiências lúdicas não libertam. Ao contrário, frequentemente viciam, escravizam e destroem. Entre nós há grande variedade de manifestações deturpadas da dimensão lúdica. O ser humano é capaz de criar jogos violentos, jogos que são até chamados de azar... Há jogos que são verdadeiras experiências de degradação da dignidade da vida humana. Há entre nós brincadeiras de péssimo gosto. Algumas podem ser denominadas desumanas, pois promovem a humilhação e ofendem a moral e a dignidade da pessoa. O mesmo pode ser observado em nossos modos de divertir. Há diversões que são cansativas, outras que são excludentes e exploradoras, e outras ainda que são violentas, perigosas e que colocam em risco a própria vida. Há modos de festejar dos quais saímos piores, sentimos mau estar no dia seguinte... 

3. Alguns critérios de avaliação do lúdico A vida humana precisa de contínua avaliação. A sabedoria produzida pela reflexão ética promove como critério fundamental de avaliação a própria vida, a dignidade da vida humana. Bom e desagradável é tudo aquilo que promove a dignidade da vida. E, portanto, o que deve ser evitado e combatido é o que ofende e agride a beleza da vida. Desse modo, diante de qualquer manifestação da dimensão lúdica pode-se e deve-se perguntar: Em que sentido este jogo, esta brincadeira, este modo de divertir, alegrar e festejar promove ou agride a dignidade da vida das pessoas envolvidas ou do meio ambiente? As pessoas tornam-se mais amigas? Em que sentido este jogo, esta brincadeira, este modo de divertir, alegrar e festejar impulsiona ou destrói a integração, a boa convivência, os sentimentos e a paz entre as pessoas? Alguém sai magoado ou ferido? Em que sentido este jogo, esta brincadeira, este modo de divertir, alegrar e festejar favorece ou impede o processo de amadurecimento e de aperfeiçoamento das pessoas? As pessoas ficam felizes? A catequese encontra aqui um critério importante de avaliação da caminhada, dos fatos acontecidos e de cada atividade planejada ou realizada. 

4. A pessoa de Jesus e o lúdico na catequese O rosto de Deus, revelado através da pessoa de Jesus Cristo, em seus ensinamentos e ações, o Abba (paizinho querido), pode ser caracterizado pela ternura, pelo encanto e pela proximidade amorosa... Para Jesus de Nazaré, Deus é, sobretudo, aquele que promove a vida em plenitude, aquele que se alegra com cada ser humano feliz e realizado. Jesus encontrou no Abba uma fonte inesgotável de amor e de sentido, de modo que sua experiência religiosa configurou-se muito diferente da de João Batista. No centro de sua pregação estava o projeto salvífico universal. O Deus de Jesus quer salvar a todos: pecadores, excluídos e marginalizados. Diante do rosto deste Deus não há lugar para o mau humor, a postura carrancuda, o semblante sombrio... Ele é o Deus da vida, fonte da verdadeira alegria e amor. A catequese que pretende revelar esta experiência de salvação, uma verdadeira “Boa Nova” precisa encontrar uma expressão adequada, esperançada, lúdica, alegre, bem humorada... A cruz para o cristão é um “fardo leve” e um “desafio suave”. Neste sentido, o seguimento de Jesus não pode ser compreendido como um peso a mais para a vida. Mas, ao contrário, o que torna a dureza da vida algo mais suave.

As exigências da vida cristã tornam a vida mais gostosa de ser vivida. Deus não é um inimigo da vida. Ao contrário, Ele é o que dá sentido à vida. Por isso, a experiência de Deus alegra o coração do ser humano. Uma configuração do cristianismo e, portanto, da catequese, que não expresse essa autêntica alegria da “Boa Nova” denuncia a sua falta de autenticidade. Como diziam os antigos, ainda que santo, “um santo triste é um triste santo”. Uma das marcas do cristão é sua alegria e o encantamento diante da vida. Mesmo diante da derrota, da dor, da perda, o cristão é chamado a contemplar a presença amorosa de Deus, nossa fonte inesgotável de sentido, nosso destino último, nossa pátria definitiva.

5. Algumas sugestões práticas Não há uma receita geral e infalível, a dimensão lúdica da catequese deve ser uma preocupação constante de cada catequista: O que fazer para que cada encontro seja vivenciado em um clima de alegria e encantamento com a pessoa e com a proposta de seguimento de Jesus de Nazaré? Há vasta literatura sobre a prática catequética e uso de dinâmicas e brincadeiras. Aqui daremos apenas alguns lembretes que julgamos importantes. Importa diversificar o uso de criatividades, inserido na realidade de cada lugar onde a catequese acontece, com a preocupação constante de ajudar a tornar o aprendizado de cada conteúdo uma experiência marcante, leve, agradável, interativa, participativa, nas palavras do nosso congresso, sedutora, libertadora e transformadora... Importa buscar e preparar dinâmicas, músicas, filmes, aplicativos, gestos, ritos, símbolos, narrativas, teatros (encenações), imagens e brincadeiras, que sejam adequadas a cada encontro.
(Edwar Neves Guimarães)


*Ângela Rocha
angprr@uol.com.br

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