Sonhe comigo e com o Padre Rui Santiago, este belo sonho de ser Igreja...
Gosto
muito de sonhar. E os sonhos que mais me encantam são os que me acontecem
quando estou acordada, porque esses me fazem arregaçar as mangas e lutar por
eles. Estes sonhos me comprometem...
Eu
os assumo como projeto e ganho razões para lutar, e ganho uma “mão cheia” de
bons motivos para sorrir...
Já
tem um tempo que venho sonhando que a minha Igreja é mais parecida com o que
Jesus Cristo nos pediu para fazê-la, que ela está como ele pediu para ser...
Sonhei
que todos os cristãos do mundo, todos os que somos Igreja, nos tínhamos de novo
sentado aos pés de Jesus, no cimo de um monte qualquer, como bons discípulos
que bebem das palavras do mestre os segredos fundamentais das suas vidas.
Quando
sonhei, vi uma multidão de homens e mulheres de todas as raças, línguas e
nações, unidos em torno da mesma Fé. No meu sonho, fiquei a olhá-los
demoradamente, e percebi que todos se amavam, todos se sentiam conhecidos e
seguros entre si.
Dei-me
conta facilmente que eram muitos, mas não se deixavam engolir pela lógica da
multidão! Eram muitos, mas não eram uma massa incógnita de gente desconhecida.
Sorri,
então, ao dar-me conta de que a “Igreja da Multidão” não existia mais, e se
tinha convertido numa Universal Comunhão de Comunidades! A Igreja voltava ao
ritmo comunitário com que tinha nascido. Todos percebiam que a Igreja não é um
lugar sagrado, mas uma Comunidade Consagrada, a comunidade dos que escutam as
palavras de Jesus: “Onde dois ou mais se
reunirem em meu Nome ,
eu estarei com eles...” (Mt 18, 20).
Todos
se percebiam como “Pedras Vivas” da Igreja que formavam (1Pe 2, 5).
Na
comunidade todos os olhares se cruzavam, todos os rostos se saudavam e todas as
vidas se enriqueciam mutuamente. Ninguém se sentia a mais, nem desnecessário.
Todos tinham vez e voz, todos eram participantes. Por isso eram comunidades
vivas, que meditavam, oravam e celebravam do jeito de Jesus de Nazaré.
Nesta
Igreja de Jesus Renascida, a Igreja dos meus sonhos, as celebrações da Fé eram
espaços privilegiados de libertação, encontro com Deus e com os irmãos,
recomeço de vida.
Não
havia classes ou elites mais importantes que outras. Todos eram fundamentais
para tudo; porque tudo era de todos... Todos se sentiam sujeitos responsáveis
pela vida da comunidade. Por isso, a Igreja era animada pela diversidade dos
carismas de todos. Todos sabiam que os carismas não são dons caídos magicamente
do céu, mas as suas próprias qualidades e capacidades postas ao serviço dos
irmãos.
Cada
um era reconhecido e amado na sua originalidade. Todos se sentiam acolhidos nas
suas diferenças, o que possibilitava que todos estivessem permanentemente em
crescimento e amadurecimento interior. Todos eram verdadeiramente exigentes
consigo próprios, e tolerantes com os irmãos.
Não
consegui ver, durante todo o tempo que durou o meu sonho, ninguém que me
parecesse medíocre ou vaidoso. Ninguém impunha as suas ideias, mas ninguém
deixava de partilhá-las e propor aquilo que pensava.
Quando
partilhavam entre si as suas vidas à luz da Palavra de Deus, faziam-no sem
reservas, sem inseguranças e sem piedosas superficialidades. Deixavam-se pôr em
causa pela Palavra, deixavam-se provocar por ela, levavam Deus a sério e
acolhiam os irmãos como sua mediação.
Quando
falavam de Deus nunca precisavam recorrer a doutrinas. Pareceu-me que nem as
tinham! Nem precisavam... Não precisavam de doutrinas aprendidas, porque
saboreavam a Verdade de Deus experimentada na própria vida e amadurecida ali, em
diálogo comunitário.
Conversavam
de Deus com um brilho intenso no olhar e com um entusiasmo contagioso nas
palavras. Deus era o centro das suas vidas, o mais importante dos seus dias.
Falavam Dele como o melhor que lhes tinha acontecido...
E
quando oravam... Ó amigos que diferença! Quando oravam, paravam tudo, e
fechavam os olhos com ar de quem tem uma confidência importante a fazer. E
tinham...
Começavam
a conversar com Deus como se conversa com o melhor amigo, em profunda
intimidade, verdade e realidade. Não lhes escutei nem uma única frase feita! Na
sua relação com Deus, todos tinham dado o salto do “Ele” ao “Você”. Ninguém
disse nada decorado, ninguém disse palavras mágicas... Todos sabiam que a
“magia” de Deus acontece ao nível do coração que se deixa encontrar por ele...
Eu
me lembro que me senti apaixonada por esta Igreja...
Onde
cada um tinha a sua função, segundo o seu carisma, e todos se sentiam
verdadeiramente como membros vivos do Corpo de Cristo no mundo. Todos percebiam
que ser o corpo de Cristo Ressuscitado no mundo, significa tornar-se mediação, meio de encontro entre Cristo
e todos os Homens do mundo que ainda não o conhecem como aquele que dá Vida
Nova. Todos compreendiam e assumiam que ser Corpo de Cristo é ser continuação
de Cristo no mundo como instrumento do seu Espírito.
Lembro-me
que, no meu sonho, também chegou a hora de acordar...
Mas acordar não
me deixou triste. Arregacei as mangas, esbugalhei os olhos e disse: “É possível! Vale a pena! Está nas minhas
mãos! Eu sou Igreja!”
E
senti que o próprio Cristo me bateu nas costas e disse: “Até que enfim posso contar com você!.” Talvez ainda fosse parte do
sonho, mas não interessa. O importante é que compreendi que a Igreja pode ser
mais perfeitamente o que está chamada a ser, se eu for mais Igreja.
Desde
então, comecei a viver em função deste sonho de uma Igreja Renascida nas
Palavras de Jesus Ressuscitado: “Ide e
evangelizai todos os povos... Eu estarei sempre convosco!” (Mt 28, 19-20)
Comecei
a perseguir o Espírito, a deixar-me levar por onde Ele me conduzia... O
Espírito mostrou-me que a Igreja já foi mais Igreja de Jesus Cristo do que é
hoje... Mas, acima de tudo, mostrou-me que o amanhã está ainda por nascer,
Cristo continua a fundar a sua Igreja todos os dias, e hoje precisa de mim...
Não
sou perfeita, não sou a melhor. Mas estou disponível a ser mais! E é de gente
assim que Cristo precisa para realizar este seu sonho que se chama Igreja.
Os
perfeitos normalmente andam ocupados, os melhores estão longe. Resta eu, que
estou disponível.
E
você, amigo! Sim, também resta você... se estiver disponível já seremos dois.
Dois!
Está
vendo o sonho se realizando? Não vê?
Já
somos dois... Olha
ao longe e vai ver. Olha
que tudo pode acontecer...
Texto adaptado do Pe. Rui Santiago – cssr,
http://derrotarmontanhas.blogspot.com.br/
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