Vós
sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo!
Jesus
utiliza uma simbologia muito compreensível. Precisamos ser sal: dar gosto,
sabor... Precisamos ser luz: iluminar a vida, dissipar as trevas... O sal dá
sabor. Os termos “sabor” e “saber” derivam do mesmo termo latino, como também o
termo “sabedoria”.
Deste
modo, podemos dizer que ser sal é adotar a sabedoria, ou seja, o saber que dá
sentido ao curso do existir. Antes de ser uma missão para fora, deve ser uma
tarefa individual, ou seja, o cristão deve dar gosto para a sua vida e, depois,
propagar o sabor da vida ao mundo. Jesus fala do risco do sal se tornar
insosso, ou seja, do perigo de nossa existência se tornar vazia, fria e sem
vitalidade. Há muitas as causas desta falta de sabor.
O Papa
Francisco, falando sobre os agentes pastorais, destaca algumas causas do
cansaço e desmotivação pastoral (cf. Evangelii Gaudium 82). Tais causas,
apontadas pelo Papa, não somente valem para a prática evangelizadora, mas para
a vida de qualquer pessoa. Eis os pontos:
a) sustentar projetos
irrealizáveis, e não viver com alegria o que é possível: não se trata da falta
de ambição com a vida, mas de ter os pés no chão;
b) desejar que tudo
caia pronto do Céu: tudo acontece mediante um processo, que exige luta
laboriosa;
c) cultivar sonhos
baseados na vaidade humana: é preciso sempre avaliar as motivações de nossos
projetos;
d) preocupar-se mais
com as normas do que com as pessoas: a vida se torna uma obrigação, o
seguimento fiel do protocolo, da lei, sem considerar que a caridade é o
fundamento maior;
e) desejar resultados
imediatos, sem se preparar para a crítica, para a cruz e para o fracasso.
A Igreja
torna-se sem sabor quando cai no pragmatismo. O Papa ainda fala de uma
“psicologia do túmulo”: “Desiludidos com a realidade, com a Igreja ou consigo
mesmos, vivem constantemente tentados a apegar-se a uma tristeza melosa, sem
esperança, que se apodera do coração como ‘o mais precioso elixir do demônio’”
(Evangelii Gaudium 83).
Não
podemos perder a alegria da boa nova. A vida da Igreja e a vida pessoal
tornam-se insossas pela tristeza e pelo pessimismo. O sabor será devolvido
quando soubermos encarar a vida com realismo: não viver o pessimismo do
fracasso diante das dificuldades, nem criar falsas expectativas diante das
alegrias.
É preciso
agradecer a Deus tudo: o bom e o ruim. Não culpar Deus pela cruz e nem buscar
sempre soluções mágicas diante das adversidades. A vida terá o seu sabor quando
vivermos o presente como o momento mais importante, colocando nossas energias
na situação do hoje, diante das situações que se apresentam agora, vivendo cada
minuto com intensidade.
Não é
fácil, pois sempre será mais cômodo lamentar o passado e esperar demasiadamente
do futuro. Jesus também nos pede para que sejamos luz. Para o profeta Isaías,
ser luz é testemunhar a caridade: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa
os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o e não desprezes a tua
carne. Se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo o socorro ao
necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o
meio-dia” (Is 58,7-8.10).
Nossas
atitudes de misericórdia e de ternura, os gestos concretos de amor que
independem do credo, a preferência pelos pobres e sofredores, o desapego de si
e dos bens, os testemunhos em prol de quem precisa de nossa ajuda, tudo isso
são atitudes que dão sabor ao mundo, que fazem acender a luz onde existem
trevas
Pe.
Roberto Nentwig
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