A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
“Sai da tua terra!” É assim que começa a aliança
entre Deus e Abraão. Deus convidou Abraão a deixar a sua terra e ir para um
lugar desconhecido. Deus pediu que Abraão deixasse tudo: sua casa, suas
seguranças, sua estabilidade. A partir daí o futuro seria incerto, pois o nosso
patriarca iria para uma terra desconhecida e enfrentaria desafios novos. Movido
pela confiança, aceitou deixar o seu passado para se aventurar diante do
chamado de Deus. Como
Abraão fez o seu êxodo, também Moisés e Elias o fizeram. Agora é Jesus que nos
coloca a caminho, para chegar a Jerusalém. O caminho tem um destino eterno –
esperamos chegar à Jerusalém Celeste.
Jesus nos coloca a caminho, mas Pedro não quer
seguir em frente. Ao propor ficar na
montanha e construir três tendas (Mt 17,4), Pedro revela sua resistência. Não é
possível acomodar-se nas tendas da montanha. É preciso desinstalar-se, sair,
não ficar na mesmice. Nossa história pode ser
fixa, imutável, rígida… Mas também pode ser uma caminhar constante. Precisamos
caminhar para fora de nosso pecado, para novas atitudes, precisamos sempre
estar nos movendo: no casamento, na vida comunitária e pastoral, na vida
profissional, no modo de pensar e agir. Não podemos nos acomodar a esquemas
prontos… A Igreja também é convidada a abandonar as estruturas que não
favorecem a transmissão da fé, fazer uma conversão pastoral, colocar-se no
caminho da missão.
Caminhar
não nos dá seguranças, pois o destino não é o triunfalismo, mas a cruz. Por
isso, só se pode seguir pela fé. No caso de Abraão, Deus promete formar dele um
grande povo. Deus pediu tudo, mas também lhe concedeu uma grande graça,
deixando-lhe uma promessa: “Farei de ti uma grande nação e te abençoarei:
engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma benção” (Gn 12,2).
Apesar de sua esposa ser uma mulher estéril, Abraão acredita na Palavra de
Deus. Aqui vem a importância da fé. Como Abraão, somos convidados a caminhar
por um caminho, sabendo o destino, mas sem nenhuma evidência de que a estrada
vai chegar onde desejamos. Por isso, o Pai diz: “Eis o meu Filho amado…
Escutai-o!” Escutar a voz de Deus é uma atitude de fé. Confiar é desinstalar-se,
apoiando-se na certeza de que Deus nunca nos abandona.
Ter a
certeza de que Deus segue conosco é o único meio de aceitar um caminho de
contradição. Jesus nos revela uma vida de opostos no Tabor: Jesus fala da Cruz
e desanima os discípulos; depois se transfigura, e anima os discípulos; desce
do monte, e volta a desafiá-los; depois vai entrar triunfante em Jerusalém, e
morre. Por fim, ressuscita. A vida não pode ser medida pelo sucesso a todo
custo. A medida da vida é uma contradição constante, que não pode nos
desanimar, não pode nos destruir. Com a mesma fé de Abraão, podemos vencer os
momentos de contradição, na certeza da vitória sobre o mal e o pecado.
Estamos
dispostos a deixar Ur? Queremos caminhar para outra terra? Desejamos descer do
Tabor e caminhar para Jerusalém? A Eucaristia é uma oportunidade para
experimentar a transfiguração: um encontro de paz com o Ressuscitado que nos
prepara para a luta e para o caminho sempre incerto, mas não sem a presença do
Mestre e Senhor.
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese Curitiba - PR
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