Jesus era
muito amigo de Maria, Marta e Lázaro. Tratava-se de uma relação profunda. Em
Betânia, Jesus era da família, era de casa, podia descansar e recobrar as forças.
É muito interessante este aspecto da vida história de Jesus, o que revela um
dos seus traços mais humanos. Jesus, como todos nós, precisava de relações
profundas, de amigos, de aconchego, de acolhida… Desse modo, não é de se
estranhar a reação de Jesus diante da morte de Lázaro. Jesus vai até o túmulo
de seu amigo, e certamente sentiu a sua morte de um modo profundo. Somente
nesta página do Evangelho, conta-se de um modo explícito que Jesus chorou. Sim,
o Filho de Deus chorou de tristeza, de dor… Mostra-nos que a dor diante do
fracasso em nossa luta contra o limite humano, as nossas lágrimas de tristeza e
saudade não são vãs, não se trata de uma fraqueza que deva ser vencida por uma
aparente coragem. Isso pelo simples fato de que Deus chorou, humanamente. Ao
chorar diante do túmulo de Lázaro, todos perceberam quão grande era o seu amor.
Sim, o seu coração humano amava. O seu coração humano continua nos amando. E
nos ama com a solidariedade de quem compreende o profundo de nossa dor humana.
É preciso
entender a ressurreição de Lázaro como um sinal, ou seja, mais importante que a
historicidade do fato é o seu significado catequético. Inclusive os estudiosos
duvidam de uma reanimação de Lázaro. E mesmo que tivesse voltado à vida, teria
morrido novamente. A ressurreição não é uma simples reanimação de um corpo, mas
uma transformação da realidade visível, uma glorificação. Tendo isso bem claro,
poderemos entender o sentido deste texto do Evangelho: a proclamação da vida
sobre a morte, uma catequese sobre a ressurreição.
Neste
domingo vemos que o Batismo é vida nova. A morte não tem poder sobre os filhos
da luz: “Quem crê em mim não morre” (Jo 11,26). O Senhor quer nos mostrar que
nós, os batizados, não morremos, mas passamos para uma nova vida. Esta nova
vida já começa aqui. Morreremos um dia, mas na verdade será a passagem para a
nova vida, como nos indica segunda leitura.
Há uma
morte batismal, uma morte de conversão, uma morte para o pecado. Há uma morte
para a vida terrena. Quem souber morrer nesta vida, fará de sua morte um
batismo: passagem para a vida verdadeira, então haverá Páscoa. Tais mortes são,
na verdade vida: morremos para uma vida velha, para uma vida de pecado e
automaticamente nascemos e vivemos para Deus. Morremos para uma existência
efêmera e ressuscitamos para uma nova vida.
“Lázaro
vem para fora!” O convite de autoridade de Jesus quer nos arrancar das sombras
da morte. Por vezes, estamos atados pelas faixas que nos imobilizam: é preciso
retirar tudo aquilo que nos deixa estáticos, sem vitalidade, sem entusiasmo,
sem capacidade para lutar e viver. É preciso sair para fora, retirando a pedra
que nos deixa na escuridão. É preciso ter a coragem de deixar para trás tudo o
que nos leva para a morte e caminhar ao encontro do Cristo. Então faremos a nossa
Páscoa espiritual, uma passagem da morte para a vida que acontece, em primeiro
lugar, no interior de nosso coração.
Jesus
quer nos ressuscitar para uma vida nova. Embora o pecado esteja em nós, o
Espírito nos ressuscita. Que esta Quaresma nos prepare para que ressuscitemos o
Cristo. Na mesa da Eucaristia nós temos vida nova: “Quem come da minha carne e
bebe do meu sangue permanece em mim e eu nele”.
Pe. Roberto Nentwig
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