HOMILIA DA SOLENIDADE CRISTO REI –
ANO B
Dois extremos se colocam diante de nossa reflexão neste domingo: por um
lado, a Festa de Cristo Rei celebra a vitória gloriosa e triunfante do Senhor
no final dos tempos; por outro lado, o Cristo é exaltado nos gestos simples de
amor de cada dia. Ou seja, falar do futuro reinante de Deus em Cristo Senhor,
implica em falar da história de um Reino que se descortina diante de nossos
olhos pelo amor. Os dois extremos se colocam na dinâmica do “já e ainda não”.
Somos peregrinos que almejam o Céu, enquanto construímos o Céu aqui. Estamos de
passagem, rumo a Terra Definitiva. Mas Deus não preparou um Céu finalizado que
tem uma porta aberta a nos esperar. Antes quer que façamos a nossa parte na
construção deste Céu, apressando, assim, o Reino definitivo.
Qual é o critério para participar plenamente do Reinado Definitivo? O
amor, sobretudo o amor pelos mais sofredores. No Evangelho vemos claramente que
o Senhor não perguntará sobre uma lista de preceitos ou orientações canônicas,
não vai se fixar em uma lista de mandamentos. Perguntará sobre nossas
disposições em amar. Mais ainda: não perguntará sobre o amor de forma abstrata,
mas sobre os gestos de amor que de modo bem concreto fomos capazes de realizar.
O que nos justifica é o ato de alimentar, vestir, visitar, dar abrigo,
consolar... O juízo do fim da história se antecipa em cada gesto de amor ou na
renúncia do amor ao longo de nossa existência.
Não precisamos ser fundamentalistas. Muitos de nós nunca visitamos um
presídio, por exemplo. Tal lacuna não significa o inferno. O que Jesus nos
revela fundamentalmente é que sua religião não se fixa nos ritos e nas leis,
mas na compaixão. Uma religião sem compaixão não é religião. E mais: em cada
sofredor que surge diante de nós está o Senhor: nos desvalidos, no pecador
rejeitado, na mulher violentada, no faminto, no triste, no desamparado. Ali
está o Senhor, Rei de todo o Universo.
Não precisamos ter medo de Deus ou do juízo, pois o medo nos afasta de
Deus. Mas devemos avaliar a nossa conduta a cada dia, pois nossas disposições
(e indisposições) para amar serão eternizadas. No fim dos tempos, não haverá um
julgamento aterrador de um juiz severo e condenador. É o mesmo Senhor que ama
os pobres e perdoa os pecadores que nos julgará, com a mesma misericórdia.
O Senhor é Rei! Prostrar-se diante dele, quando
o Santíssimo é elevado ou diante de qualquer sacrário, pode ser uma abertura ao
seu projeto de amor ou uma mera atitude piegas, fundamentalista ou uma prática
formal e sem vida. O que define o nosso reconhecimento sobre o seu Reinado é
amá-lo no ser humano. Que o Senhor verdadeiramente reine em nossas vidas até
que o seu Reino sem fim se estabeleça. Amém!
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de Curitiba - PR.
FONTE:
NENTWIG, Roberto. O Vosso Reino que também é nosso. Reflexões Homiléticas - Ano B. Curitiba; Editora Arquidiocesana, 2015. pg. 79.
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