17 de
novembro de 2018
Dom José Antônio
Peruzzo, arcebispo de Curitiba e presidente da Comissão Bíblico-Catequética da
CNBB:
“Do
encontro com Jesus ao encontro com o irmão: viver em comunidade”.
A forma nominal “seguimento” não se encontra nos
evangelhos. Seus autores empregam o verbo “seguir”. “Seguir Jesus” era uma realidade possível, cujo início
dependia, fundamentalmente, de um encontro pessoal com Ele. Sem burocracias,
sem pré-requisitos.
O que se afigurava um encontro ocasional se tornou comunhão de vida e até participação plena na mesma causa dele. Nestas linhas, além de dialogar com os evangelistas, tendo diante dos olhos a suas palavras, é a Palavra de Deus que nos vai ensinar sobre o seguimento.
O que se afigurava um encontro ocasional se tornou comunhão de vida e até participação plena na mesma causa dele. Nestas linhas, além de dialogar com os evangelistas, tendo diante dos olhos a suas palavras, é a Palavra de Deus que nos vai ensinar sobre o seguimento.
No evangelho de Marcos 1,16-20 o tema do seguimento está
entre as primeiras palavras pronunciadas por Jesus. Isto é já sinal de que
estamos diante de uma das questões mais caras aos evangelistas. Viu e lhes
pronunciou a palavra-convite. Aquele olhar e aquela palavra assinalaram um fim
e um começo: deixaram de ser pescadores de peixes. Começou o caminho dos
pescadores de homens.
Em João 1,35-39 – a resposta “Vinde e vede” (1,39) não propõe um endereço. Jesus oferece sua relação de convívio. Isso não se aprende por informação, nem por lição vinda de um mestre. É por experiência, é mediante o encontro pessoal.
E o seguimento continuou. Jesus, caminhando à beira do mar, viu... chamou... E eles, imediatamente, deixaram as redes e o seguiram (Mc 1,16-18). Assim também com Levi: “Ele se levantou e seguiu-o” (Mc 2,14). Algo semelhante aconteceu nos relatos de João. Apenas um exemplo: “Os dois discípulos ouviram esta declaração de João Batista e passaram a seguir Jesus” (Jo 1,37). Na realidade, os evangelistas querem estimular o leitor à adesão a Jesus. Por isso, aceleram o tempo da história. Mas, houve um processo. Houve um caminho começado. E continuado até com dificuldades.
O evangelista tem sempre ante seus olhos o leitor. A ele quer aproximar a história e os passos dos discípulos. Expõe seus caminhos, tropeços, e novos caminhos. Chegamos ao lava-pés (Jo 13,1-11). Impressionam os versículos 4 e 5. São vários verbos no presente: “Levanta-se.… depõe o manto... cinge-se.… derrama água na bacia...pôs-se a lavar... a enxugar”. Na língua grega isso significa que aqueles mesmos gestos e significados continuam a valer para o tempo do leitor. Pedro não entendera todos aqueles ritos. Referiu-se a Jesus como “Senhor”, mas custava-lhe ver Jesus com avental, água, toalha... Vê-lo como soberano não requer nova mentalidade. No seguimento Pedro seria interpelado a colocar o avental..., fazer-se e lavar os pés dos irmãos (Jo 13,13-17). É o caminho do discípulo.
A fraternidade entre os seguidores de Jesus é uma verdade
constitutiva do discipulado. Ou seja, se esta faltar não há mais seguimento.
O mandamento novo “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos...” Não tem alcance cronológico, mas qualitativo. Por outro lado, o complemento “assim como eu vos amei” aponta para o fundamento que sustenta a missão de amar-se uns aos outros. Este decorre da experiência de amor que eles, discípulos, terão tido com Jesus. É ele a causa do amor entre eles. A amizade com Jesus, por eles experimentada, não é apenas comparação. É a realidade fundante.
A Igreja no Brasil está a pedir a seus filhos que recomecemos a partir de Jesus Cristo. Nossa vocação e missão apontam para o encontro com Ele e com o irmão. Ou seja, para experiências comunitárias e eclesiais de seguimento.
É hora da fé e da esperança no caminho da Iniciação à Vida Cristã. Os evangelistas parecem ter percebido isso desde seus primeiros escritos. Pedem que não nos atrasemos.
Conferência
com Moisés Sbardelotto:
“A
catequese na era digital: novas linguagens, novos processos de comunicação”.
Não está em questão o uso de tecnologias, o que está em
jogo é uma cultura nova que vai além do uso de tecnologias. A Igreja é
convidada a repensar os seus processos de comunicação.
Não é uma questão de oferecer receitas para a catequese. Temos uma Igreja diversa, não adianta dar receitas porque a longo prazo não servirá. Não iremos refletir sobre o uso de maquinário técnico, o mais importante é entender as lógicas que movimentam isso. A cultura digital tem facetas próprias em vários locais.
Em 30 anos a transformação no mundo foi enorme. Também a Igreja mudou sua maneira de fazer comunicação. Alguns dados importantes:
Dados sobre o Brasil:
- Dos 210 milhões de habitantes,
metade usa internet.
- 130 Milhões, usam mídias sociais
- O tempo médio de uso da internet é
de 9 horas de uso por dia.
- Uso específico em mídias sociais: 4
horas por dia.
É importante pensar esses dados à luz da fé. A ferramenta mais utilizada é o Youtube, depois Facebook, Messenger, Instagram. São as principais.
Cresce o número de crianças e adolescentes conectados só pelo celular. A maioria não assiste televisão. O computador fixo também diminuiu o uso. 44% consomem informações via celular. 85% usou a internet ao menos uma vez em 3 meses. Também em classes de renda baixa.
Os maiores medos das novas gerações: não ter WiFi, ficar sem internet, ficar sem bateria.
Características dessa cultura digital:
- Cultura sintética (digitalização de tudo).
- Cultura da convergência.
- Da multimídia à transmídia: Vivemos nessa cultura digital, do link. Fala-se em
transmídia. Verificar como cada uma pode ajudar no processo comunicacional.
- Cultura da conectividade
- Somos Aldeias globais.
- Mutação da relação com o conhecimento e com o outro:
“inteligência coletiva” e “intercriatividade”.
- Ubiquidade (estar presente ao mesmo tempo em todos os
lugares): A rede em toda a parte ao mesmo tempo. “Aqui, agora, já”.
- Mobilidade.
- Cultura instantânea, simultânea, “presenteísta”.
- Autonomia
- “Auto comunicação de massa” (M. Castells)
- “O amador ocupa o espaço livre entre o profano e o
especialista” (P.Flichy)
- Cultura da participação: Cultura maker.
Se a catequese não circula no espaço digital, amadores ocupam este espaço. Quem é cultura da participação não suporta ficar sentado, precisa participar. O debate é mais precioso. É uma cultura do fazer. Crianças querem fazer, colocar a mão na massa, também adolescentes e jovens.
Inculturação digital
Pela inculturação, a Igreja “introduz os povos com as suas culturas na sua própria comunidade”, porque “cada cultura oferece formas e valores positivos que podem enriquecer o modo como o Evangelho é pregado, compreendido e vivido” (EG 116).
É preciso ver o que há de positivo na cultura digital e como ela pode enriquecer a catequese. Não significa trazer tecnologia para dentro da Igreja e da catequese, mas as formas, os valores dessa cultura...
A Igreja tem reflexão interessante sobre isso. Basta acompanhar as mensagens dos dias mundiais das comunicações sociais, por exemplo. A mensagem do próximo ano irá tratar sobre “Comunidades em rede e comunidades eclesiais”.
Tentativa de aproximar a Igreja nas redes A Igreja não só reflete, mas tenta encarnar o que propõe:
- Março 95 – Vaticano lança um site.
- Papa João Paulo II enviou um primeiro e-mail, em novembro 2001, aos bispos do mundo inteiro.
- Papa Bento XVI inaugura sua página no Twitter. O primeiro papa que fala em nome próprio na cultura digital (dezembro de 2012).
- Papa Francisco continuou usando essa página no Twitter – O papa é o primeiro colocado na lista de líderes mundiais mais seguidos. Em março de 2016, criou sua conta no Instagram.
Interfaces entre a catequese e a cultura digital:
Didático-informativa
- A internet é um “banco de dados” e ”memória sociocultural”.
Que bom se a catequese puder se aproveitar disso, das imagens, dos textos. Os
assuntos do momento também podem ser utilizados como sinais dos tempos...
- O celular pode ser utilizado como recurso. Como aproveitar
o celular como recurso catequético? Usar para fotos, para pesquisa...
- Aplicativos podem ser desenvolvidos.
Sombras:
·
Hiperinformação
e infoxicação.
·
Fake
News e desordem informacional (falso + nocivos). Mistura maldade, agressão.
·
“Na
atualidade temos excesso de informação e insuficiência de organização, logo
carência de conhecimento (E. Morin).
·
Os
nativos digitais sabem usar a tecnologia, mas precisam ser educados no uso
delas. Temos muita informação, mas o que se faz com ela para gerar conhecimento
é que é a questão.
Luzes:
·
Que
os encontros possam organizar e ressignificar: deslocamento do doutrinal para o
experiencial/vivencial. Ensinar a exigência irrenunciável do amor ao próximo
(EG 161).
·
Catequese
querigmática e mistagógica (EG 160). A catequese pode ajudar a ler o que se
vivencia em rede.
·
Alfabetização
midiática, presença significativa, ativa, autocritica e cristã. Formar para a
informação.
·
Discernimento:
examinar, priorizar, escolher, decidir. Ajudar a ver quais prioridades tenho no
dia a dia, a quem seguir, a quem bloquear
·
Verdade
– beleza – bem comum – são os critérios.
Psicopedagógica
- Identificação e significação da pessoa. Fazer esforço para
conhecer o perfil dos catequizandos e o contexto cultural em que estão
inseridos. Podemos conhecer mais coisas das pessoas do que no presencial. Não é
bisbilhotar a vida dos catequizandos, mas ver o que a rede nos apresenta sobre
essa pessoa, se comunica a pessoa do catequizando. Tudo que se faz em rede não
é neutro. Estamos falando sobre nós mesmos quando falamos em rede.
- É preciso colocar um ouvido no megafone que são as redes
sociais e ouvir o que os catequizandos estão confessando sobre si. Captar a
riqueza, valores, possibilidades...
- Ficar à escuta do povo para descobrir aquilo que os fiéis
precisam ouvir. Um pregador é um contemplativo da Palavra e também um
contemplativo do povo. Nunca se deve responder a perguntas que ninguém se põe (EG
154-155). Olhar as redes e ver quais perguntas aparecem sobre os
catequizandos.
Sombras:
·
Quanto
sofrimento há na rede, ciberbullyng, pornografia, boatos, fraudes,
isolamento...
·
Supervelocidade:
aceleração do tempo e perda de memória.
·
Bolhas
informacionais: mais do mesmo.
Luzes:
·
-
Arte do acompanhamento espiritual: também nas redes sociais...
·
Ajudar
a refletir o que se viu, o que os catequizandos postam.
·
-
Nem tudo é bobagem no que a pessoa posta na rede. É ela que está se revelando.
·
-
Somos chamados a formar as consciências, não pretender substituí-las (AL 37).
·
-
Num tempo tão veloz podemos propor a lentidão, propor o jejum tecnológico, o
deserto digital.
Sociocomunitária
- Como a rede pode nos alimentar nas
relações? É preciso ver as redes como facilitadoras e potencializadoras de
comunidades.
- Podemos fazer teleconferências e intercâmbios catequéticos:
uma catequese na diversidade, encontro com lideranças.
- Sala de catequese expandida: abertura à sociedade e ao
mundo. Ruas e redes....
- “Gesto concreto digital”: doar tecnologias para periferias.
O Papa Francisco falou com um grupo de crianças do mundo
inteiro. A maneira como foi realizada a preparação para o sínodo com seminários
online também foi uma inovação.
Teológico pastoral (algumas
indicações):
- Oração via internet e aplicativos.
- Peregrinação virtual (visita a museus religiosos, viagem
online à terra santa, caminhar pela terra santa via aplicativo)
- Buscar e encontrar Deus em todas as coisas e todas as
coisas em Deus (Santo Inácio). Deus já age nas redes sociais antes de nós. Como
perceber sua presença nesses ambientes é nossa tarefa.
- Dar testemunho em rede: O testemunho cristão nas redes não
se faz com o bombardeio de mensagens religiosas, mas com a vontade de se doar
aos outros, atento às suas questões. Ter coerência dentro e fora dos encontros
catequéticos.
FONTE:
http://www.catequesedobrasil.org.br/subeditoria/4-semana-brasileira-de-catequese#
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