O quinto capítulo reflete sobre a espiritualidade essencial ao catequista, especialmente aquele que exerce seu papel como mistagogo, ou seja, como guia que introduz os catequizandos no mistério de Deus.
A Espiritualidade como Essência do Ser
A espiritualidade é descrita como o núcleo profundo do ser humano, representando suas motivações, paixões e a mística que guia sua vida. No contexto do catequista, ela envolve um relacionamento íntimo e dinâmico com Deus, construído a partir da escuta da Palavra, da comunhão com a Igreja e de atitudes pedagógicas.
O catequista é chamado a uma espiritualidade enraizada no discipulado, que nasce no batismo e se fortalece na oração, nos sacramentos e na vivência comunitária. Essa espiritualidade conduz o catequista a ser alegre, entusiasmado, corajoso e profundamente conectado à Trindade.
Dimensões da Espiritualidade do Catequista
1. Oração
A oração é apresentada
como uma necessidade para o catequista, ajudando-o a:
- Reconhecer-se como alguém em relação
constante com Deus.
- Entender a realidade ao seu redor,
valorizando as diferenças e os dons.
- Compreender sua missão no mundo, na
Igreja, na família e no trabalho.
- Transformar o cotidiano em um espaço de encontro com Deus.
Assim, a espiritualidade
não é apenas conhecimento, mas um testemunho transformador que brota do amor
trinitário e atua na vida dos catequizandos pelo Espírito Santo.
2. Liturgia
A liturgia é essencial
para o catequista porque:
- Une fé, celebração e vida, oferecendo um
sentido profundo à prática cristã.
- Centraliza-se no Mistério Pascal,
rememorando a História da Salvação e promovendo a participação ativa no
sacerdócio comum dos fiéis.
- Torna-se fonte de santificação e compreensão, capacitando o catequista a viver e transmitir a plenitude da vida cristã.
A liturgia, como fonte
inesgotável de catequese, apresenta uma síntese da fé e da vida cristã.
3. Leitura Orante da
Palavra de Deus
A Leitura Orante é
apontada como alimento espiritual essencial, permitindo que o catequista
interprete a vida e encontre Deus na realidade do mundo atual.
- Por meio dela, o catequista se forma como
discípulo missionário e anunciador entusiasta do Evangelho.
- É enfatizado que a Leitura Orante não se
limita à interpretação da Bíblia, mas busca transformar a fé em prática
viva.
- A dimensão comunitária da Leitura Orante fortalece o processo formativo, criando um espaço para partilha e crescimento mútuo.
A Espiritualidade Mariana
Inspirando-se em Maria,
o catequista é chamado a cultivar um relacionamento íntimo com Deus, renovando
constantemente seu dinamismo espiritual e apostólico. A espiritualidade mariana
torna a catequese mais amorosa, gerando confiança, generosidade e abertura para
os mistérios da vida.
A espiritualidade do
catequista mistagogo é um processo integral que envolve oração, liturgia,
escuta da Palavra e inspiração mariana. Ela transforma a catequese em um
testemunho vivo do amor de Deus, capacitando o catequista a guiar os outros na
descoberta do mistério de Cristo e na vivência concreta da fé.
Conversando no grupo de catequistas
a) Uma das
características do catequista mistagogo é a intimidade com Deus expressa em
oração e celebração tendo por base a Palavra de Deus. Que tempo você dedica
para a intimidade com Deus através da oração?
Confesso que não costumo dedicar tanto tempo à oração como gostaria. No entanto, busco diariamente estabelecer uma conexão com Deus por meio da leitura bíblica, especialmente pela manhã, em busca de inspiração e motivação para o meu dia. Às vezes, um único versículo já é suficiente para despertar em mim essa intimidade com Ele.
Enxergo Deus como um amigo próximo, Pai amoroso e guia fiel, com quem converso ao longo do dia de maneira espontânea, sem depender de fórmulas de oração. Contudo, reconheço que minha vida de oração pode ser mais profunda e estruturada.
Recentemente, por
exemplo, dediquei-me a estudar o método de oração de Santa Teresa de Ávila e
seus quatro graus de oração. Identifiquei-me com as dificuldades que ela
menciona, especialmente no que se refere à dispersão e à falta de tempo e
espaço para a "quietude". Embora comece a rezar com determinação,
percebo que ainda não consigo alcançar a “oração da quietude” ou as águas mais
profundas de que ela fala. Apesar dessas limitações, acredito que cada
momento dedicado a Deus, mesmo em meio às minhas distrações, é valioso. Por
isso, sigo buscando formas de crescer na oração e de criar um espaço em minha
vida para uma intimidade mais profunda com Ele.
(Ângela Rocha)
b) Partilhe no grupo
sua experiência de oração.
A oração tem sido uma fonte de grande paz para mim, mas, para realmente me aprofundar nela, preciso de quietude e solidão. Quando consigo me concentrar e me deixar absorver pelo momento, sinto a oração não apenas com o espírito, mas também com os sentidos: a chama da vela parece mais intensa, o aroma do incenso mais profundo. Vou colocar um texto que escrevi para explicar melhor meus sentimentos:
O Cheiro, o gosto, o olhar da fé...
Cada vez que entro em um templo católico, algo toca minha alma. Ao passar pelas grandes portas, adentro silenciosamente o espaço do Senhor, e logo percebo que não são as paredes altíssimas, nem os vitrais que refletem a luz ou o teto grandioso que me fazem respirar profundamente e me prostrar em reverência.
Não são os passos dolorosos do Senhor na Via Sacra que tocam meu coração, nem os nichos de oração com seus genuflexórios que me convidam a ajoelhar e admirar a devoção dos santos. Não é a dignidade do ambão, a palavra que fala ao povo, ou o altar que se oferece em sacrifício. Não é a luz do sacrário que me lembra que o sonho divino vive para sempre.
O que me toca, de fato, é a convicção humana de que, através da arte, da beleza e da simbologia, conseguimos chegar à grandeza de Deus. Quando olho um templo com os olhos da fé, não vejo apenas uma construção imponente, mas a grandeza e majestade de Deus refletidas naquela estrutura.
Para ver isso, é necessário ouvir o silêncio do templo, que nos faz escutar apenas o eco dos nossos passos e o estalar da madeira dos bancos. É necessário sentir o cheiro de Deus que emana das Igrejas, o calor da luz que os vitrais refletem, e o gosto da oração em nossa boca, que se abre em veneração absoluta.
É preciso perceber que não são os templos que refletem a Igreja Católica, mas sim Deus, que se reflete em nossos templos. Isso é algo que só quem verdadeiramente ama sua Igreja pode compreender.
Ângela Rocha –
Catequista
(*Escrevi este texto
após visitar o templo do Seminário Franciscano Santo Antônio, em Agudos – SP,
em 2018.)
FONTE:
SCHERER, Odilo
Pedro; BERTOLDI, Marlene; TOGNERI, Silvia; SILVA, Sérgio; FERREIRA, Nilson
Caetano. Mistagogia: novo caminho Formativo de Catequistas. Cap. 5.
VII SULÃO DE
CATEQUESE. São José do Rio Preto – SP. 19 a 21 de agosto de 2011. editor@suliani.com.br
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