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terça-feira, 5 de novembro de 2024

O TEMPO DE DEUS

Por esses dias andei me questionando se, realmente, o céu poderia existir. E briguei um pouquinho com Deus por ter levado alguém que amo, sem que eu tivesse manifestado o suficiente esse amor. E questionei a justiça de uma morte ainda tão prematura, quando havia tanto ainda a se viver. E fiquei também me perguntando por que, tantos de nós, estão perdendo as pessoas que amam.

É preciso ser realista: nosso tempo na terra é finito! E estamos - mesmo que a gente não goste de admitir - um pouco mais "velhos". Já não somos crianças e é normal que as pessoas que convivem conosco também envelheçam, vão terminando seu ciclo de vida e acabam partindo.. Duro aceitar isso. Duro aceitar que o "Kronos" é inevitável.

Mas pensando em quem perdi, percebi que a mim foi dado o tempo que podia me ser dado. E antes de ficar chorando por ter sido pouco, eu deveria agradecer por TER TIDO ESSE TEMPO. E saber que esse é o kairós, o tempo de Deus, muito mais verdadeiro e marcante que o Kronos do relógio.

Existe uma frase que diz que nada é por acaso, que não existem coincidências. Mas também acredito que nem tudo está escrito. Temos sempre uma escolha. E podemos escolher como viver o nosso tempo.

E talvez o céu também seja uma dessas escolhas. Podemos escolher viver o céu ou o inferno por aqui mesmo.

E que saibamos reconhecer este céu! Às vezes, estamos tão ocupados com nossas dores, que nem nos apercebemos do tempo precioso que nos é dado aqui, daquele tempo inestimável de dividir sorrisos, lágrimas, presença, amor... enquanto ainda é possível.

Penso que temos tido, aqui entre nós, muitas perdas. Perdemos nossas mães, nossos pais, nossos irmãos. E a cada perda que um dos meus amigos relata, é como se eu tivesse perdido alguém também. Tenho aprendido nesses dias o enorme valor de um simples abraço, do silêncio de quem não sabe o que dizer ou como consolar.

Gostaria que todos que perderam alguém, pensassem no CÉU que viveram junto a essa pessoa, nos momentos de alegria e até mesmo de tristeza partilhada. Mesmo que sejamos todos cheios de religiosidade, que acreditemos plenamente na vida eterna e num futuro reencontro, sempre fica na gente aquela "ausência", aquele sentimento dolorido de quem não vai mais ter o abraço físico da pessoa amada.

E não é nada fácil. É difícil aceitar que eles estão "num lugar melhor", quando a gente acha que o lugar melhor é junto com a gente. É egoísmo nosso, eu sei. Mas a gente precisa viver um pouco desse egoísmo. É o reflexo do grande amor que sentimos pelas pessoas que fazem parte da nossa existência.

Então é preciso buscar a serenidade, a aceitação. Talvez não seja possível ainda sufocar a dor e as lágrimas. Precisamos de tempo. Precisamos do tempo que só Deus pode nos dar. Tempo que preciso deixar passar.

Ângela Rocha
Catequista
31/03/2011

* Não, não perdi ninguém por esses dias. Só lembrei de não esquecer os que se foram.


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