Via de regra, as pessoas “não gostam de ler”. Dito isso, parece que estou generalizando demais, pois muitas pessoas adoram ler! Aqueles que não “gostam” normalmente tem outros motivos que o “gostar”: falta de tempo, falta de disciplina, falta de esforço mesmo e um pouco do que eu chamaria de preguiça mental. É bem mais fácil assistir um vídeo ou escutar um áudio.
A maneira como o cérebro é exercitado depende do método de aprendizado, e cada forma (leitura, vídeo ou áudio) estimula o cérebro de maneiras diferentes. Ler no faz “viajar”, pois temos que, além de compreender os símbolos (palavras), temos que criar em nosso cérebro as imagens das pessoas, dos lugares, dos costumes, etc.
Já um vídeo, já nos deixa mais relaxados, não precisamos imaginar muita coisa. Mas, parece “entretenimento” e acabamos por sair um pouquinho pra beber água, comer alguma coisa e deixamos o vídeo lá rodando...
Um áudio parece ser perfeito... nos primeiros 10 minutos! Depois nossa
mente sente falta de “movimento” e a tendência é não prestar mais atenção ao
que está sendo dito.
Bem, estas são opiniões leigas no assunto. Então fui pesquisar. E, de fato, cada tipo de método de aprendizagem tem suas características. Vamos analisar cada uma:
1. Leitura - Como estimula o
cérebro:
- Envolve várias áreas do cérebro: visão (identificação de palavras),
linguagem (interpretação), memória e cognição (conexão de conceitos).
- Estimula o córtex pré-frontal e as áreas associadas à compreensão e
análise.
- É uma atividade ativa que exige concentração, especialmente na leitura
crítica.
Estudos indicam que a leitura
profunda, como a de textos densos ou argumentativos, ativa mais áreas cerebrais
do que a leitura superficial. Pesquisas da neurociência, como as realizadas
pela Dra. Maryanne Wolf no livro Proust and the Squid, sugerem que a
leitura fomenta a capacidade de pensamento crítico e empático.
2. Assistindo a um vídeo -
Como estimula o cérebro:
- Integra estímulos visuais e auditivos simultaneamente.
- Envolve a área occipital (visão), o córtex auditivo e áreas
relacionadas à integração sensorial.
- Pode ajudar na retenção de informações, pois combina elementos
narrativos com estímulos visuais (uma técnica conhecida como “dual coding”).
De acordo com Mayer (2014) no
estudo sobre “Teoria da aprendizagem multimodal”, vídeos aumentam a
retenção porque apresentam informações em dois canais: visual e auditivo. No
entanto, podem ser mais passivos do que a leitura e não exigem tanto esforço de
reflexão.
3. Ouvindo um áudio - Como
estimula o cérebro:
- Ativa o córtex auditivo e áreas ligadas à memória e imaginação.
- Pode ser mais desafiador porque o ouvinte precisa criar mentalmente
imagens baseadas no que ouve, exercitando a criatividade.
- Estudos mostram que o áudio é eficiente para aprendizado em movimento
ou multitarefa.
Um estudo de Rogowsky et al.
(2016) comparou a leitura e o aprendizado por áudio, concluindo que ambos podem
ser igualmente eficazes, dependendo da complexidade do material e do contexto
do ouvinte.
Conclusão
A Leitura exige mais esforço
cognitivo e ativa mais áreas cerebrais, especialmente no pensamento crítico. É
a melhor forma para exercitar o cérebro.
Vídeos são ótimos para
aprendizado visual e contextual, mas podem ser menos exigentes
cognitivamente.
Áudios estimulam a imaginação e
são úteis em situações específicas, como multitarefas. Mas, corre-se o risco de
criar dispersão.
Por fim, penso que o melhor método de aprender é a leitura. Por mais que a tecnologia tenha nos trazido alguns equipamentos para leitura digital, como Computador e notebook, Tablet, Smartphone, E-reader, etc.; ainda é preciso saber ler e ter domínio da linguagem escrita. Sem falar que ajuda a FALAR também!
Ângela Rocha
Catequista - Graduada em Teologia pela PUCPR
LEIA O ARTIGO A SEGUIR:
TEXTO, ÁUDIO OU
VÍDEO: COM QUAL APRENDEMOS MELHOR?
De maneira geral, a ciência mostra como a mídia digital manifesta características comuns quanto aos hábitos de uso que podem restringir a aprendizagem.
Durante a pandemia, o papel
perdeu ainda mais espaço para a nuvem. Ensinar e aprender ficou multimídia, o
material didático e as tarefas migraram dos livros para as telas em
variados formatos e plataformas digitais.
Como professora acadêmica de
Linguística, tenho investigado como a comunicação eletrônica se compara à
analógica na qualidade do aprendizado. A compreensão é a mesma se uma pessoa lê
um texto na tela ou no papel? E quanto à audição e à visualização de um
material? São modalidades tão eficazes quanto a leitura do mesmo conteúdo?
A resposta para tais perguntas
costuma ser “não”. É o que discuto em meu livro “Como lemos agora”, lançado em
2021. A explicação envolve uma combinação de fatores que incluem a concentração
reduzida, uma mentalidade de entretenimento e a tendência multitarefa ao
consumir conteúdo digital.
Aprendizagem é melhor com
leitura no papel ou na tela?
Uma série de pesquisas confirma
que absorvemos melhor a informação em centenas de palavras de textos impressos
do que digitais. Os benefícios de ler no papel são particularmente evidentes
quando passamos de tarefas simples, como identificar a mensagem principal de um
determinado trecho, para tarefas que exigem reflexão, como captar e interpretar
as entrelinhas.
A leitura tradicional também
aumenta a probabilidade de lembrar detalhes, como a cor do cabelo de um
personagem ou o local e o momento dos eventos na história. Por exemplo, “o
acidente foi antes ou depois do golpe político?”.
Estudos mostram que tanto os
alunos em etapa escolar quanto os universitários de hoje pensam que
terão notas mais altas em um teste de compreensão se leram o conteúdo em
formato digital. Na prática, porém, a pontuação é maior quando o material lido
antes da prova era impresso.
Os educadores precisam saber
também que o método usado para testes padronizados pode afetar os resultados.
Pesquisas com alunos de escola primária na Noruega e com alunos do ensino
fundamental nos Estados Unidos relatam pontuações mais altas quando os
testes padronizados são aplicados em papel. No estudo dos EUA, os efeitos
negativos dos testes digitais foram mais fortes entre os estudantes com notas
baixas em compreensão leitora, os que estão aprendendo inglês e os de educação
especial.
No caso de uma pesquisa minha e
outra de colegas, abordamos a questão de forma diferente. Em vez de pedir aos
alunos que lessem e fizessem um teste, perguntamos como eles percebiam o seu
aprendizado geral quando liam materiais impressos ou digitais. Tanto os alunos
do ensino médio quanto os universitários consideraram que a leitura em papel
era melhor para a concentração, a aprendizagem e a memorização do que a
digital.
As discrepâncias entre os
resultados impressos e digitais estão parcialmente relacionadas às propriedades
físicas do papel. Com o papel, há uma disposição necessária das mãos, assim
como uma percepção geográfica e visual distinta das páginas. As pessoas
costumam vincular a memória do que leram à parte do livro onde pararam ou
ao parágrafo na página.
Mas igualmente importante é a
perspectiva mental e o que pesquisadores chamam de “hipótese superficial”.
De acordo com essa teoria, as pessoas consomem textos digitais com uma
predisposição ao entretenimento, como se estivessem interagindo com redes
sociais, isto é, de maneira mais desprendida, dedicando menos esforço mental do
que quando leem textos impressos. Os
alunos ficam mais propensos a multitarefas e distrações quando estudam nas
telas.
Podcasts e vídeos e seu papel
na aprendizagem
Enquanto a adaptação à
aprendizagem virtual na pandemia popularizou o modelo de aulas invertidas, nas
quais os alunos ouvem ou assistem o conteúdo antes do encontro com o professor,
a internet já oferecia uma infinidade de podcasts e vídeos sobre qualquer tema.
Nesse contexto, muitas tarefas escolares que anteriormente envolviam leitura
foram substituídas por audição ou visualização.
Pesquisando o corpo docente de
universidades estadunidenses e norueguesas em 2019, a professora Anne Mangen,
da Universidade de Stavanger, e eu descobrimos que 32% dos professores dos EUA
já vinham substituindo materiais em texto por vídeos, e 15% relataram fazer o
mesmo com áudio. Os números foram um pouco menores na Noruega. Em ambos os países,
porém, 40% dos entrevistados que haviam alterado seus programas de curso nos
últimos cinco a 10 anos informaram que estão atribuindo menos leituras
atualmente.
Um dos principais motivos dessa
transição para áudio e vídeo é que os alunos não fazem as tarefas com a leitura
designada. Embora o problema não seja novo, um estudo realizado em 2015 com
mais de 18.000 universitários no último ano de faculdade constatou que apenas
21% costumava concluir todas as leituras obrigatórias para o curso.
E como áudio e vídeo podem parecer
mais atrativos do que texto, professores recorrem cada vez mais a essas
tecnologias, por exemplo, designar uma palestra TED[1] em vez de um artigo
escrito pela mesma pessoa.
Não perca o foco da
aprendizagem
Psicólogos demonstraram que os
adultos lembram mais de um conteúdo quando leem notícias ou transcrições de
vídeo, do que quando ouvem ou assistem peças idênticas. Resultados semelhantes
foram encontrados entre universitários ao ler um artigo e ouvir um podcast do
texto. Outro estudo relacionado confirma que os alunos vagueiam mais pela mente
quando ouvem áudio do que quando leem.
Estudantes menores apresentaram
semelhanças e uma diferença. Uma pesquisa realizada no Chipre, concluiu
que a relação entre as habilidades de escuta e leitura se inverte à medida que
as crianças se tornam leitoras mais fluentes. Enquanto os alunos da segunda
série tiveram melhor compreensão ao ouvir, os da oitava, ao contrário,
compreenderam melhor ao ler.
A comparação de aprendizado entre
vídeo e texto reflete os resultados com áudio. Na Espanha, por exemplo,
pesquisadores descobriram que alunos da quarta à sexta série que liam textos
demonstravam uma integração mental muito maior do material do que aqueles que
assistiam vídeos. A hipótese dos autores é que os alunos absorvem o conteúdo
dos vídeos mais superficialmente porque associam o formato com entretenimento,
e não com aprendizagem.
De maneira geral, a ciência
mostra como a mídia digital manifesta características comuns quanto aos hábitos
de uso que podem restringir o aprendizado. Entre elas, uma concentração menor,
a predisposição ao entretenimento, a propensão a realizar várias tarefas ao
mesmo tempo, a falta de um ponto de referência físico, a redução de anotações e
de revisão do conteúdo absorvido, haja sido lido, ouvido ou visto.
Textos on-line, áudios e vídeos têm funções educacionais, especialmente quando fornecem recursos indisponíveis no papel. No entanto, a capacidade de aprender requer esforço mental, foco e reflexão. Portanto, educadores e pais, não devem presumir que a compreensão e o desenvolvimento dos estudantes será igual em qualquer formato, mesmo quando contêm palavras idênticas.
FONTE:
BARON, Naomi S. Professora Emérita
of Linguistics, American
University. Doutorado em Linguística, Universidade Stanford.
* Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença
Creative Commons. Leia o artigo original em: https://theconversation.com/texto-audio-ou-video-saiba-com-qual-aprendemos-melhor-211803
[1] Uma palestra TED é
uma apresentação curta e objetiva, com duração máxima de 18 minutos,
realizada por personalidades de diversas áreas e nacionalidades. Conferência que celebra tecnologia,
entretenimento e design (TED), a sigla TED é a abreviação em inglês para esses
três segmentos.
FONTES DE REFERÊNCIA:
LIZOTE, Suzete Antonieta; ALVES, Cláudia Ribeiro; TESTON, Sayonara de Fátima; OLM, Jaqueline Werner. Estilos de aprendizagem, desempenho acadêmico e avaliação docente. Revista Catarinense da Ciência Contábil, v. 18, p. 1-16, jun. 2019. Disponível em: https://revista.crcsc.org.br/index.php/CRCSC/article/view/2837](https://revista.crcsc.org.br/index.php/CRCSC/article/view/2837 . Acesso em: 18 nov. 2024.
MAYER, R. E. The Cambridge Handbook of Multimedia Learning (2nd Edition). Cambridge University, Press. 2014.
PAUL, Annie Murphy. The Extended Mind: The Power of Thinking Outside the Brain.
ROGOWSKY, B. A.; CALHOUN, B. M.; TALLAL, P. Does modality matter? The impact of audio, visual, and print learning on comprehension." Frontiers in Psychology*, 7, Article 273. (2016).
SCHMITT, Camila da Silva; DOMINGUES, Maria José Carvalho de Souza. Estilos de aprendizagem: um estudo comparativo. 2016. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior, v. 21, n. 2. Disponível em: https://periodicos.uniso.br/avaliacao/article/view/2598](https://periodicos.uniso.br/avaliacao/article/view/2598
SILVA, Ana Paula et al. (2020). Estilos de aprendizagem no ensino superior brasileiro: desafios e práticas docentes. 2020. Revista Brasileira de Educação, v. 25, e250077. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-24782020250077 .
WOLF, Maryanne. Proust and the Squid: The Story and Science of the Reading Brain.
Um comentário:
Adorei o conteúdo.
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