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quinta-feira, 28 de novembro de 2024

OS RITOS E ENTREGAS NA CATEQUESE DE INICIAÇÃO A VIDA CRISTÃ COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

OS RITOS E ENTREGAS NA CATEQUESE DE INICIAÇÃO A VIDA CRISTÃ COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Texto formativo muito interessante para quem quer começar a trabalhar com o processo catecumenal!

Quais as "entregas" de Símbolos que podem ser adaptadas à catequese das crianças e adolescentes?

Outro dia estávamos comentando em nosso grupo a respeito do Rito de Entrega da Oração do Senhor – Pai Nosso. E ali surgiram algumas questões, quando comentei que estes ritos carecem de preparação e cuidado tendo em vista que não são meros “ritualismos” para deixar a missa mais bonita ou simplesmente, marcar a passagem de um ano para outro. Por mais que a nossa catequese seja dividida em etapas marcadas no calendário por “anos catequéticos”, a simples passagem do 1º para o 2º ano, por exemplo, não demanda a “entrega” de algum símbolo como se este fosse um “prêmio”.

Os ritos de entregas a serem feitos na catequese, são inspirados pelo RICA – Ritual da Iniciação Cristã de Adultos, livro litúrgico que orienta as diferentes etapas do Catecumenato (iniciação cristã de adultos em nossa Igreja), aprovado pela Sagrada Congregação para o Culto Divino em 1973. No Brasil ele teve uma nova edição aprovada em 2001 pela CNBB, que trouxe algumas mudanças na disposição gráfica e inclusão de algumas normas exigidas pelo Código de Direito Canônico, textos bíblicos aprovados pela Sé Apostólica e também algumas observações sobre a Iniciação cristã que constavam apenas no Ritual de Batismo de Crianças. O RICA, em seu Capítulo V, disciplina a Iniciação de crianças em idade de catequese, entendendo aquelas que ainda não foram batizadas, juntamente com a catequese para o grupo de crianças já batizadas.

Apesar de sua “extraordinária riqueza litúrgica e preciosa fonte pastoral”, o RICA ainda permanece desconhecido da maioria dos agentes de pastoral ligados à catequese de adultos e a catequese de crianças. Até mesmo alguns presbíteros desconhecem o seu teor.

Observamos, já no prefácio do livro, o Decreto de 1972, da Sagrada Congregação para o Culto Divino, que restaura “o catecumenato dos adultos dividido em várias etapas, de modo que o tempo do catecumenato, destinado a conveniente formação, pudesse ser santificado pelos sagrados ritos celebrados sucessivamente. ” No entanto, o que podemos observar na maioria das Igrejas particulares é que ainda se faz a catequese de adultos nos moldes “doutrinais” e com o único objetivo se fazer a “regularização” de alguma situação sacramental (objetivando principalmente o matrimônio) daqueles que procuram as paróquias. Ou seja, faz-se uma catequese baseada quase que exclusivamente no Catecismo, ou nos pilares da fé disciplinados pelo DGC 130, sem levar em conta, de fato, a INICIAÇÃO CRISTÃ destas pessoas.

Com o pedido de restauração do Catecumenato para os adultos, nossa Igreja se viu diante da necessidade premente de reestabelecer a catequese como era nos primeiros tempos da nossa Igreja, ou seja, adotar a IVC – Iniciação a Vida Cristã inspirada no processo catecumenal. E a catequese que fazemos, com crianças, jovens e adolescentes, “tomou a frente” de toda ação pastoral necessária, adotando em seus planejamentos algumas ações da catequese catecumenal de adultos, adaptando celebrações, ritos e entregas do catecumenato à catequese de nossas crianças e jovens.

Em muitas paróquias encontramos na catequese das crianças características da IVC sem que o resto da paróquia sequer tenha conhecimento do que seria um processo de IVC catecumenal, que, em sua base, deveria envolver TODA A COMUNIDADE, lideranças, pastorais, movimentos, grupos e serviços.

Mas, o que à primeira vista, parece um equívoco, tem se mostrado uma verdadeira ação do Espírito Santo no sentido de que, com a implantação dos ritos e celebrações de inspiração catecumenal, nossa catequese tem se tornado mais litúrgica e mistagógica. Temos celebrado mais, orado mais e dado mais valor aos símbolos da nossa fé.

No entanto é necessário tomar um cuidado: não tomemos os RITOS e ENTREGAS como “modismo” e meras celebrações mais bonitas e “interessantes”. São ações que tem o objetivo de enriquecer nosso espírito e trazer de volta todo o “mistério” da nossa fé e não, ações ritualísticas.

Observemos por exemplo o seguinte: o RICA prevê durante o processo de Iniciação, ritos e a entrega de alguns símbolos, feitos durante a celebração com a comunidade. 

O primeiro deles é o RITO DE ACOLHIDA dos novos catecúmenos (adaptando-se à nossa realidade seriam as crianças que iniciam a catequese em preparação ao sacramento da Eucaristia), onde, durante a Celebração da Acolhida se faz a entrega da PALAVRA (Bíblia), base de todo o ensinamento catequético.

No entanto, observa-se em alguns manuais e orientações pastorais que esta Acolhida e entrega da Palavra, tem sido feita no início da catequese de Eucaristia e depois lá na catequese para a Crisma também. Ora, por mais que o processo de IVC catecumenal esteja sendo iniciado naquele momento na paróquia, não dá para esquecer que estes jovens JÁ ESTÃO NA PARÓQUIA DESDE A CATEQUESE DE EUCARISTIA! E que aos 13, 14, 15 anos já tem uma Bíblia ou já a manusearam muito nos anos de preparação anterior!

É correta esta entrega e acolhida, se o jovem estiver COMEÇANDO naquele momento a catequese e não recebeu nenhuma preparação anterior e ainda não fez a Eucaristia. Ora, se estamos “acolhendo” neste momento e só agora entregando a Palavra aos jovens, que podem até já ter participado da catequese de eucaristia, estaremos negando tudo aquilo que nossa Igreja já fez. Que esta catequese anterior tenha sido equivocada e não tenha levado a verdadeira conversão, não quer dizer que tenhamos que fazer o Ritual de Acolhida novamente, como se a pessoa estivesse entrando pela primeira vez na Igreja, para começar uma catequese frutuosa no aspecto “Evangelização”.

Outra situação também é a entrega da PALAVRA (Bíblia), ao final da 1ª etapa (ano) de catequese, como formar de “eleger” ou “premiar” o catequizando que está passando para a 2ª Etapa. As crianças não usaram a Bíblia em nenhum dos 30 encontros (em média) que tiveram ao longo do primeiro ano de catequese? Somente a catequista tinha a Bíblia? Não se ensinou as crianças a manusear a Bíblia? Elas já têm uma e ganham outra? Qual é o propósito desta entrega no final do ano?

Com relação as duas outras entregas de símbolos previstos no RICA

Sim! são somente mais DUAS! Entrega do Símbolo (Credo) e Entrega da Oração do Senhor (Pai Nosso), conforme preceitua os itens 125 a 187 e 188 a 192 (págs. 91 e 104), ambas são feitas durante a etapa (no catecumenato)  de Purificação e Iluminação, ou seja, próximas ao sacramento, podendo ser feitas na etapa anterior (catequese) a critério pastoral. E não são entregues apressadamente NUMA ÚNICA CELEBRAÇÃO!  O RICA prevê que se faça os ritos de “escrutínio” (que são três), sendo entregue o Símbolo (Creio) depois do primeiro escrutínio e a Oração do Senhor depois do terceiro.

Só para esclarecer: Os “escrutínios” se realizam por meio dos “exorcismos”, que são ESPIRITUAIS. São expressões que se traduzem em “orações”, “súplicas” e “bênçãos”. O que se procura por eles é purificar os espíritos e os corações, fortalecer contra as tentações, orientar os propósitos e estimular as vontades, para que os catecúmenos se unam mais estreitamente a Cristo e reavivem seu desejo de amar a Deus (cf. RICA, item 154). São realizados nos 3º, 4º e 5º domingo da Quaresma. A critério pastoral podem ser feitos em outros domingos da Quaresma. Mas, isso é para a CATEQUESE DE ADULTOS, não para as crianças. 

Mas, enfim, se não fazemos os escrutínios e não conseguimos fazer a etapa de Purificação e Iluminação na Quaresma, podemos colocar os ritos e entregas em outra época conveniente à comunidade. Mas, preceder (SEMPRE!) as entregas do Símbolo e da Oração do Senhor, de uma catequese a respeito, tanto para os catequizandos quanto para os pais/responsáveis. Nossos iniciandos na fé PRECISAM saber e entender o significado profundo de se receber o Símbolo da nossa Fé apostólica e da Oração que Jesus nos ensinou. Durante a celebração (missa), não se explica nada, nem se faz “catequese”. Aliás, se um símbolo precisar de explicação é porque ele não simboliza aquilo que queremos. A união da Catequese e da Liturgia passa pelo profundo respeito que se deve ter por ambas as ações. A catequese ensina e orienta, a Liturgia celebra.

E aqui entra um outro assunto que são as demais entregas que é costume se fazer em alguns lugares, durante a missa da catequese: “Mandamento do Amor”, “Mandamentos do Senhor”, “Bem-Aventuranças”, “Escapulário de Nossa Senhora”, “Terço” e outras invenções catequéticas. Muitas vezes, estas entregas de símbolo são feitas no final do ano civil, para “marcar” o início das férias da catequese, fechando o ano catequético junto com o ano escolar. E em lugares onde a catequese dura mais de 3 anos, escolhe-se um símbolo para cada ano sem levar em conta critérios como a evolução da catequese e o aprofundamento da vida de oração dos catequizandos, como disciplina o RICA, ou então o entendimento dos catequizandos sobre as verdades da fé.  Os símbolos são escolhidos como mero “rito de passagem” de cada ano/etapa.

Não estamos querendo fugir da escolarização da catequese? Por que a cada etapa é preciso uma "formatura"? Um "prêmio? Se a catequese de crianças for tratada dessa forma, qual é o sentido dela? Aliás, qual é o sentido de se entregar "símbolos" que as crianças e jovens não sabem o que simbolizam?

Fora as entregas da Oração do Senhor e do Credo Apostólico, as demais não estão disciplinadas pelo RICA e, portanto, não passaram pelo crivo da Sé Apostólica. Nada contra se fazer, cada paróquia, junto com o pároco, equipe de liturgia e equipe de catequese podem fazê-las. No entanto, fogem totalmente do aspecto litúrgico da missa. Pior ainda se forem feitas sem uma catequese anterior a respeito, sem que a comunidade entenda o que se está fazendo e “misturado” com os ritos do catecumenato.  Estas pequenas celebrações são maravilhosas se forem feitas NA CATEQUESE, como “celebração catequética” após cada término de assunto, revestidos de sentido mistagógico, contemplativo e orante. E estas celebrações precisam envolver a família, que assim, também são catequizadas.

E devemos pensar também, que tudo que fazemos e “inventamos” precisa ser visto com um profundo respeito pela comunidade e assembleia. A missa tem seus ritos próprios, sua condução normal. Dura em média uma a uma hora e meia. Nesta missa temos crianças que, por natureza, são impacientes e inquietas. Qualquer ação que leve a uma missa prolongada além do normal, vai gerar insatisfação e inconveniência para os pais. E antes que façamos o tradicional julgamento: “Ah! Que cristãos são esses que não tem tempo para Deus? ”. Pensemos que a Liturgia e o tempo da missa, não são adequados para fazer a catequese que não conseguimos fazer no lugar e na hora certa. A catequese da missa é litúrgica, celebrativa, orante e BÍBLICA, e já está disciplinada em suas várias partes.

Vamos pensar sempre que, vivemos numa mudança de época e não numa época de mudanças, onde as pessoas tem que se adequar a Igreja. Ao contrário, a Igreja é que tem que se adequar aos novos tempos. E, infelizmente para nós e Deus, o tempo é de pressa.

Ângela Rocha – Catequista

Graduada em Teologia pela PUCPR.

FONTE DE CONSULTA:

RICA - Ritual da Iniciação Cristã de Adultos.  Você encontra nas livrarias católicas, na Paulinas, na Paulus, nas Edições CNBB e outras.


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