DIACONIA
Diaconia é uma palavra grega
utilizada cerca de cem vezes no Novo Testamento. É uma expressão que aparece
como substantivo diakonos (alguém que
serve), diakonia (serviço) e como verbo diakoneo (servir).
O termo é utilizado tanto para referir-se ao serviço mútuo entre as pessoas,
quanto para o ministério de Jesus no mundo “Pois o próprio Filho do homem
não veio para ser “diaconado”, mas para “diaconar” e dar a sua vida
em resgate de muitos.” (Mc 10.45).
Diaconia compreende o estilo de
vida que Jesus escolhe e recomenda para os seus seguidores. A diaconia pode ser
definida como o Evangelho em ação, expresso através do amor ao próximo, da
comunhão inclusiva, da preservação da criação de Deus e da luta pela justiça.
A Diaconia é Cristocêntrica
A diaconia é centrada em Cristo:
na sua vida, exemplo, morte e ressurreição. Em Cristo, Deus mostra o Seu grande
amor pela humanidade e por toda a criação, tornando-se um de nós (Jo 1.14),
esvaziando-se e assumindo a forma de servo (Fp 2.6-8). A diaconia tem em Jesus o seu modelo e exemplo. Ele cuidou das pessoas, curou os enfermos,
ministrou aos pobres, tocou nos impuros, libertou os oprimidos, abraçou os
marginalizados e confrontou a injustiça. Após a sua ressurreição, ele apareceu
aos discípulos e disse-lhes “Assim como o Pai me enviou, também eu os envio.”
(Jo 20.21). Portanto, o exemplo que devemos tomar para o nosso estilo de vida
deve ser igual ao de Jesus Cristo: vivermos uma vida de serviço. A conversão
implica não vivermos mais para nós mesmos, nem para satisfazermos as nossas
próprias necessidades, mas vivermos para aquele que por nós morreu e
ressuscitou (2Co 5.15).
Diaconia é mais que ação
social e mais que projetos
A diaconia bíblica se distingue
de qualquer outra ação pública ou humanitária porque ela inclui a partilha da
fé e o convite para uma vida nova, a vida plena que só Cristo pode oferecer –
vida que abrange a reconciliação com Deus, com o próximo e com a criação. A
diaconia é uma atitude, é o estilo de vida exigido para os discípulos de Jesus.
Ser um seguidor de Jesus é seguir o seu exemplo, fazer o que ele fez, ir onde
ele foi e cuidar daquilo que ele cuidou. Isso vai muito além de uma atividade
ou um projeto.
"Se eu, Senhor e Mestre, lavei os
vossos pés, também deveis lavar os pés uns dos outros. Pois eu vos dei
exemplo, para que façais também o mesmo". (Jo 13,14-15).
Diaconia não pode ser considerada
simplesmente uma atividade de um grupo especialmente interessado em assuntos
sociais. Nordstokke (1998, p. 277) afirma que “a identidade eclesiológica da
diaconia faz com que ela não possa ser igualada a ação social, mesmo que na
prática possa tomar uma forma semelhante”. A ação diaconal, portanto, tem suas
raízes na identidade da igreja como a comunidade dos discípulos de Jesus, o
Diácono por excelência.
Charles van Engen, em seu
livro Povo missionário, povo de Deus, quando trata da finalidade da igreja
local, diz:
O ensino neotestamentário pressupõe que o ministério diaconal faça mais que atender às necessidades da comunidade crente. Diaconia conclama a Igreja a demonstrar – e contribuir para – a criação de uma nova ordem mundial em que a paz, a justiça e a misericórdia reinem sob o senhorio de Jesus. Diaconia não é simplesmente mais uma coisa boa que podemos fazer, ou ainda apenas um braço que deve ser estendido ao mundo em que vivemos. É natureza fundamental da Igreja cristã ministrar a todos os necessitados de todos os lugares. Quando a Igreja missionária de Deus deixa de tomar parte no ministério diaconal, algo de sua natureza missionária deixa de brotar. (1996, p.122).
A prática diaconal demanda
articulação e mobilização em rede para transformar situações de morte em
realidades de vida
Desde uma perspectiva bíblica,
qualquer estrutura geradora de morte precisa ser transformada. Kjell Nordstokke
(1995, p. 61) diz “A diaconia é profética; (…) onde a vida está ameaçada (…)
nessa realidade Deus quer agir, dizendo através de palavras e ações: Basta!
Assim como está não pode continuar”. A diaconia não deve estacionar no nível da
caridade, ela precisa sempre avançar na direção da justiça, já que existe,
claramente, uma relação direta entre conhecer a Deus e praticar a justiça.
É o que diz o Senhor por meio do profeta Jeremias ao ganancioso rei Jeoaquim,
contrastando o seu reinado com o de seu pai, Josias: “Teu pai (…) agiu com
justiça e retidão, por isso as coisas iam bem para ele. Julgou a causa do
necessitado e do pobre; e as coisas iam bem. Por acaso não é isso o que
significa conhecer-me? Diz o SENHOR.” (Jr 22.15, 16).
Situações de pobreza, violência e
morte demandam do povo de Deus um compromisso com a misericórdia, a compaixão e
a justiça. Esse chamado é coletivo, não é “meu” ou da “minha instituição”, ele
é “nosso”! Atuando em rede as nossas ações serão potencializadas, o nosso
impacto será mais significativo e o nosso testemunho cristão se tornará mais
crível; Aquele veio para diaconar e não para ser diaconado disse: “Nisto
todos saberão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo
13.15).
Autor: Bebeto Araújo (Missão Aliança).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ENGEN, Charles van.
Povo missionário, povo de Deus. São Paulo: Vida Nova, 1996.
NORDSTOKKE, Kjell. Diaconia. In: SCHNEIDER-HARPPRECHT,
Christoph (Org.). Teologia Prática no contexto da América Latina. São
Leopoldo: Sinodal/ASTE, 1998. P. 268-290.
__________. Diaconia:
fé em ação. São Leopoldo: Sinodal, 1995.
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