Bom, antes de nós, Andréia e eu, entrarmos numa depressão profunda achando que somos mais porcaria de catequistas do que já achamos que somos... faço aqui algumas observações.
Nem todas as realidades são iguais, Rô! Louvo o seu ardor e gostaria, sinceramente, de poder passar noites sem dormir e semanas estudando para me tornar uma catequista melhor. Mas isso não é possível. Também gostaria de estar lá na minha primeira comunidade, onde conhecia a todos e onde podia acompanhar as crianças na catequese durante mais que alguns meses. Quando estava lá meu discurso era o mesmo que o seu. Estava no paraíso e não sabia. Minha realidade é que sou uma recém-chegada aqui. E pra mim é como se estivesse começando a ser catequista agora.
Aliás, ainda converso com muitos dos "meus" ex-catequizandos. Sobre vídeo-game, filme, namoro, música. Somos amigos ainda. E muitos deles nunca mais pisaram na Igreja! Se acreditam em Deus, se seguem os passos de Jesus? Nem questiono isso. Basta-me que sejam pessoas de bem.
O que eu, a Glícia e a Andréia estamos colocando aqui são situações completamente diferentes da sua. E que, infelizmente, fazem parte da vida da maioria dos catequistas. Nem sempre podemos escolher a turma, o horário, o dia. Nem sempre temos tempo pra dedicação integral à catequese. Assim como nem sempre encontramos adolescentes com "ânsia” em saber como construir um mundo diferente, como fazer para lidar com o mundo, sem se matar, sem se mutilar, sem se “contaminar". A grande maioria já está "contaminada" desde muito cedo.
E agora lembrei de uma fala de uma catequizanda minha:. "Porque você quer ficar nos chateando contando essas história? Isso não interessa, vamos brincar de alguma coisa." E aí eu questiono nosso papel de catequistas da Igreja Católica. Se é para fazê-los se sentir "aceitos, ouvidos, valorizados, e principalmente amados" não é melhor a gente montar consultório de psicólogo na catequese e jogar a bíblia fora? Ou quem sabe adotar todo mundo e levar pra casa?
E quero lembrar o contexto das "pérolas aos porcos", que faz parte do Sermão da Montanha, ou seja, um dos maiores ensinamentos de Jesus aos homens. Em Mateus 7, 6, Jesus diz: "Não deis aos cães o que é santo, nem jogueis vossas pérolas diante dos porcos...". E aí acredito que ele fala das pessoas que, claramente, mostram desdém pelo evangelho, não devemos continuar insistindo e forçando-as a aceitar a palavra. Algumas pessoas, não querem ou simplesmente não conseguem ou estão preparadas para apreciar o grande valor da palavra de Deus. E essa é o nosso trabalho na catequese, fazer ecoar a Palavra de Deus.
E se a gente for um pouco mais adiante em Mateus, vai ler o seguinte: "Todo aquele que pede recebe, quem procura encontra, e a quem bate, a porta será aberta." Não é preciso perder o sono ou se achar responsável pelas desgraças da humanidade ou se culpar porque ninguém está "aprendendo nada". Lembremos da "regra de ouro": "pedi e vos será dado!". Não podemos pedir pelo outros! É preciso que cada um se converta e se responsabilize pela sua própria fé. Querer isso de uma criança? Olha... É improvável que aconteça!
E lembro aqui também uma fala de Içami Tiba: "Amigo é amigo e Pai é Pai", cada um tem seu papel. E vamos adaptar à catequese: "Catequista é catequista e Pais são Pais", não queiramos tomar o lugar destes, porque com os filhos, ficamos no máximo uma hora por semana e no período escolar. E esse é o período que nos é dado para CATEQUIZAR e não para praticar terapia de grupo!
Por que nossos catequizandos parecem não saber nada e não seguem nossa religião depois da catequese? Porque não estamos sendo catequistas de verdade! Porque estamos querendo substituir relações humanas imprescindíveis! Queremos ser pais, terapeutas, conselheiros, professores, amigos. Educar para a fé que é bom, nada! E de quebra ainda usando a Bíblia, que nem todo mundo está preparado para entender. Primeiro a conversão! Sem estar convertido quem é que assimila alguma fé?
Fico feliz, que você tenha catequizandos com presença constante na catequese e que você se sinta realizada com eles. Mas eu me nego a assumir a culpa pelo meu fracasso na catequese de adolescentes, assim como a Andréia também não deve assumir. E também não tenho amargura nenhuma. Só penso que a catequese de crianças e adolescentes, nos moldes em que estão, não tem futuro algum.
Se pretendo deixar de ser catequista? Não, de maneira alguma. Mas, "educar" os filhos dos outros nas coisas elementares como respeito, cortesia, gentileza; não é função do catequista, como diz aquele ditado: "educação vem do berço". E isso não é um julgamento, é uma constatação dos fatos.
E sim, cada vez mais se prova que o grande "segredo" do sucesso são as relações humanas! É com elas que precisamos contar para poder evangelizar as pessoas. Mas nunca pensando "substituir" ou "furtar" aos pais a grande responsabilidade de criar os filhos e fazê-los pessoas boas! A nós, cabe sermos os "segundos", nunca os primeiros, na vida das crianças e adolescentes. Precisamos complementar a educação dada pelos pais e ajudá-los quando necessário. Já imaginou que maravilha seria se, pelo menos uma vez por semana, a gente também pudesse se encontrar com as famílias? Esse é meu sonho!
E assim como a Renata e a Rosangela relataram, existem muitas e muitas experiências maravilhosas de sucesso na catequese. Eu mesma tenho muitas. E é claro que não há uma debandada geral da Igreja, senão não teríamos mais católicos! Mas é ingenuidade nossa achar que tudo tem jeito e que basta um pouco mais de esforço nosso. Muitas vezes esse "esforço" pode custar a nossa própria fé na humanidade e nossa saúde!
Angela Rocha – Londrina Pr.
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